Melhores discos de 2021
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

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O mero fato de ter escutado a um disco do Cynic, por si só, já foi algo bastante incomum. Trata-se, afinal, de uma banda frequentemente associada a sub-gêneros do tipo “technical death metal” e “prog-metal”, alcunhas que no mais das vezes me fazem atravessar para o outro lado da rua quando percebo-as vindo ao meu encontro. O que dizer então de não apenas ter ouvido mas gostado de um disco do Cynic? E gostado a ponto de colocá-lo na minha lista de favoritos do ano? Pois é, foi um ano estranho. Já não lembro o que me animou a escutar Ascension Codes — a lembrança de The Abyss, um filme ruim de ficção científica dirigido por James Cameron, lembrança esta despertada pela capa do disco? Acho que foi isso. Tenho uma quedinha por sci-fi ruins... Enfim, o fato é que desta vez não passei para o outro lado da rua e surpreendentemente gostei bastante do que encontrei neste disco: há algo nele de hipnótico, de fantasioso e acolhedor, uma inocência e uma fluência que não chegam nunca a ficar em segundo plano devido às acrobacias instrumentais que fazem a fama da banda. Foi depois de duas ou três audições que me surgiu esta ideia tresloucada de incluí-lo na lista abaixo. Pensando bem, um ano que começou com uma febre de pomp rock, terminá-lo com Cynic talvez signifique alguma evolução intelectual. Talvez. Provavelmente não. Extravagâncias à parte, o fato é que foi bastante difícil escolher meus 14 discos favoritos de 2021. Na pré-lista que fui anotando ao longo do ano, no começo de dezembro constavam 29 discos, nenhum deles muito fácil de eliminar. O que facilitou um pouco o trabalho foi que havia uma quantidade excessiva de discos de metal. Decidi então excluir aqueles que achei um pouco menos excepcionais (Hypocrisy, Mastodon, At the Gates e Eyehategod foram alguns) para deixar a lista um pouco mais colorida e variada, sendo alguns destes eliminados — se não todos — certamente melhores do que o Cynic, mas tal qual uma criança teimosa fazendo birra, bati o pé e decidi que o Cynic ficaria na lista, para dar-lha um lustro diferente, uma luminescência sci-fi fusion psicodélica, algo assim. Não creio que Patricia Kopatchinskaja (figurando em minha lista pelo terceiro ano consecutivo) ficaria envergonhada de estar aqui dividindo espaço com o Cynic; o camarada do Paysage d’Hiver, que parece ser a simpatia em pessoa, provavelmente não acharia muita graça. Também não consegui deixar de fora o celebrado disco do Bríi, apesar de alguns aspectos do álbum reiteradamente me frustarem sempre que eu o escuto, mas o resultado final é inquestionavelmente algo superior, um amálgama de sons poderoso e audacioso. Por fim, ainda não foi desta vez que voltei a incluir um disco de outra de minhas paixões clandestinas, aquilo que chamam de darksynth ou darkwave (a última vez foi com o Drab Majesty em 2017), mas este e este chegaram muito perto de figurar na lista final. E é isso. Não sei a qual destes 14 discos eu daria o prêmio de favorito dos favoritos; quando escrevi o post dos discos de dezembro, eu estava absolutamente certo de que não poderia ser outro que não o da parceria entre Chelsea Wolfe e Converge, mas também os discos da Marissa Nadler e do Body com o BIG|BRAVE são especiais... Mas estamos conversados. Aqui vamos nós novamente. Eu não espero nada de bom de 2022 — nada além de overdoses de música, é claro.
- Blank Gloss - Melt
- Body & BIG|BRAVE - Leaving None But Small Birds
- Bríi - Sem Propósito
- Converge & Chelsea Wolfe – Bloodmoon: I
- Cynic - Ascension Codes
- Hania Rani & Dobrawa Czocher - Inner Symphonies
- Hawthonn - Earth Mirror
- Lucy Railton & Kit Downes - Subaerial
- Marissa Nadler - The Path of the Clouds
- Panopticon - ... And Again Into the Light
- Patricia Kopatchinskaja, Sol Gabetta & Camerata Bern - Plaisirs illuminés
- Paysage d'Hiver - Geister
- Sarah Davachi - Antiphonals
- Tchornobog - Tchornobog
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