Dying Days
Seu browser está com uso de JavaScript desativado. Algumas opções de navegação neste site não irão funcionar por conta disso.

Discos do mês - Junho de 2025

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Junho de 2025

Crédito(s): foto de autor desconhecido, copiada daqui.

O massacre continua. Dos palestinos e dos meus ouvidos 1. Enquanto no Oriente Médio a limpeza étnica é tocada por Benjamin Netanyahu e sua rede global de apoiadores oportunistas e depravados, aqui no cenário doméstico os responsáveis pela gradual aniquilação dos meus ouvidos atendem pelos nomes de (para citar apenas alguns) Vacuous e Hooded Menace. Os primeiros recém-chegados; estes últimos velhos conhecidos já mencionados anteriormente. Eu não conhecia o Vacuous até poucos dias atrás, mas ao escutá-los pela primeira vez foi praticamente de imediato que me acamaradei deles. Também pudera: In His Blood começa com um urro primal que remete ao Left Hand Path do Entombed, ou seja, são sujeitos bem informados, cultos, gente distinta. Mas, apesar desta referência logo nos segundos iniciais, daí em diante o disco toma um rumo diferente do traçado pelos lendários suecos: o death metal do Vacuous é moderno, soa mais urbano, em muitos momentos pode-se até mesmo dizer que se trata de música agressiva para quem não se identifica com o metal, para quem se constrange com a figuração fantasiosa do metal. Há momentos que lembram um Unsane mais recalcitrante, um Helmet possuído, embora os vocais provavelmente afastem o cidadão médio que chegou algum dia a gostar destas duas bandas, garantindo assim a sensação de exclusividade que tanto prezam os excêntricos que circulam pelas extremidades do mundo do metal. E mesmo assim, talvez os mais puristas descartem esta banda... Eu, pouco excêntrico e nada purista, estou adorando. Mais do que o Vacuous devo ter escutado apenas ao Never Cross the Dead, minha segunda aquisição do Hooded Menace. Que coisa gloriosa! Essa banda é uma preciosidade: seus discos exigem ser escutados nos fones de ouvido (e de noite, naturalmente), pois cada peça — cada segundo de cada faixa — parece algo bem pensado, executado, caprichado; cada faixa é um pequeno universo mórbido em si própria e move-se em uma velocidade estranha e peculiar. São contos de terror cujas contrapartes literárias teriam que vir da pena de Poe ou Lovecraft para serem tão bons quanto. Lindo demais. Junho teve também tributo aos mestres pioneiros: no pacote em que veio Never Cross the Dead veio também o Black Metal do Venom. Sobre este não é preciso que eu escreva nada, afinal, é um clássico que mora lá no alto ao lado dos álbuns do Jimi Hendrix, do Black Sabbath e outros imortais. O fato de que até outro dia eu não possuia ainda este disco em minha coleção só pode ser explicado pelas singularidades que regem a forma como compro discos. Quem ainda cultiva esta mania deve entender. Fora do mundo da música invertida, escutei algumas vezes ao novo disco do Turnstile, banda com quem eu já tinha alguma familiaridade, embora não conhecesse sobre eles nada além da música. E então fui descobrindo. Eles se apresentam como uma banda de harcore — e seus fãs certamente gostam de se apresentar como fãs de uma banda de hardcore. Este novo disco, contudo, claramente pretende levá-los um pouco mais longe, e não há problema nisso: Never Enough é empolgante, é bem produzido, é cheio de melodia e de guitarras vibrantes e ferozes. É música jovem e rebelde para um público jovem que talvez tenha seus rebeldes genuínos e certamente tem uma maioria de rebeldes de butique. É também música de uma banda que vende suas canções para uma rede de junk food norte-americana e se apresenta em programas de auditório da TV daquele país... E com tudo isso meu interesse esvaziou-se, foi só até a página dois. Não digo que o disco é ruim (é muito bom, na verdade) mas tampouco digo que o Turnstile é uma banda para se levar no lado esquerdo do peito. Tenho esse problema com o mundo da cultura de massa ultra-mercantilizada. E tenho também minhas contradições: o mundo do videogame é um mundo que praticamente vive aninhado na cultura de massa, é um mundo cujos produtos almejam o êxito dominante por vocação, natureza e necessidade. E eu passo algumas horas por semana imerso nesse mundo. Não vou perder tentando explicar, vou dizer apenas que a trilha sonora do game Horizon: Zero Dawn é coisa bastante fina.


1 Absolutamente nenhum paralelo é possível entre o assassinato em massa de (mais) um povo pobre de pele escura e meu hábito de ouvir música barulhenta. Se fosse uma brincadeira, seria de muito mal gosto. Minha intenção, explico-me, é deixar registrada aqui — não obstante a total irrelevância e pouca audiência deste blog — mais uma denúncia do genocídio palestino. Que esta tela, desimportante que seja, se junte às muitas outras que ficarão arquivadas na web para sempre, para que as futuras gerações tenham registros suficientes para compreender a real dimensão do que aconteceu em Gaza, do que nós como sociedade permitimos que acontecesse. Coisas tais como estas:

‘Beyond anything imaginable’: dozens killed at busy Gaza seafront cafe

59 dead, 221 wounded as Israeli tanks fire at Gaza food aid site, medics say

At least 322 children killed since Israel's new Gaza offensive, Unicef says

Adicionado em 11 de julho de 2025: Israeli strike kills at least 10 children queueing for medical treatment in Gaza

Comentários:

Não há nenhum comentário.

(Não é mais possível adicionar comentários neste post.)