Discos do mês - Setembro de 2024
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:
Crédito(s): detalhe da capa do EP Interdimensional Extinction do Blood Incantation.
Texto:
Hooded Menace – The Tritonus Bell
Se estes tantos discos de metal que escuto fossem alguma espécie de busca pelo balanço perfeito entre o tom das guitarras, a velocidade e a melodia dos riffs, a atmosfera e alguma outra coisa mais difícil de definir, talvez eu devesse então declarar como encerrada a busca. Cá está meu Santo Graal.
Interpol - Turn On the Bright Lights
Algum filme ambientado em Nova York me fez ficar com vontade de revisitar este disco, o primeiro do Interpol. O rock 'n' roll do começo dos anos 2000 não me impressiovana muito, aquelas guitarras clínicas e sumárias, os ternos apertados... Eu ficava com a impressão que faltava substância, a substância que na década anterior sobrara nas bandas de Seattle, que escorria na face de Layne Staley e de repente agora parecia esgotada, ou talvez recolhida em um modo de regeneração, vivendo uma entressafra ou ressaca. Seja como for, não fiz a transição para aquela nova geração e acabei ficando lá por onde me criei mesmo, os anos 80 e 90, aprendendo também a reverenciar os pioneiros dos anos 60 e 70 e expandindo meus interesses para outros gêneros, com o Interpol se distinguindo como a exceção que confirmava a regra. Pelo menos por um tempo. Agora cá estamos no futuro e revisitei Turn On the Bright Lights, e constatei que sua intensidade monocromática continua mesmo irresistível — não era ilusão. O disco, por conta de ótimas composições e produção consciente e bem calibrada, se sustenta segura e tranquilamente, e se bem me lembro o disco posterior do Interpol também não fica mal na foto. Depois a fórmula se esgotou, os astros deixaram de se alinhar; lembro de escutar dois ou três dos álbuns seguintes e ficar exasperado com a perda de tempo, a falta de justificativa para a existência continuada daquela música. Às vezes penso que é por isso que gosto tanto de metal: no metal não há subterfúgios, não há muita aderência a tendências culturais; seu nicho é estável e se retro-alimenta, seu alicerce conceitual único é o perigo e de resto é o som pelo som, é a música jogada em nossas caras. Bandas como o Interpol, por outro lado, têm prazo de validade. O que não significa que seus bons discos deixem de reluzir. Respondendo à pergunta que me fiz quando tirei este CD da estante: sim, valeu a pena tê-lo guardado por todo esse tempo.
Tara Jane O'Neil - A Ways Away
É provável que The Cool Cloud Of Okayness, disco de Tara Jane O'Neil lançado este ano, esteja em minha lista de favoritos de 2024, porém nos últimos dias tenho escutado mais frequentemente este outro de 2009, A Ways Away, que me atrai por se parecer com uma longa reinterpretação de Riders on the Storm do Doors: a lisergia descansada, o clima abafado de deserto, visões trêmulas de cobras e xamãs. A música se arrasta e entorpece os sentidos, guitarras e instrumentos acústicos vagam sem destino certo enquanto vozes vindas de longe entregam mensagens cifradas. Estamos no terreno da música-ritual, indicada para quem gosta de Six Organs of Admittance, Grouper e Big Blood.
Blood Incantation - Interdimensional Extinction EP
A música do Blood Incantation... Oras, que diferença faz a música se o disco tem essa capa? (A propósito, a música é ótima. E pelo o que andei lendo por aí, está ficando melhor ainda.)
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