Dying Days
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Discos do mês - Junho de 2013

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Junho de 2013

Beach Boys: Surf's Up

Não sou um profundo conhecedor do discografia do Beach Boys, longe disso, mas tenho descobrido que além do rock bobinho do início da carreira e da delirante busca pela perfeição capitaneada por Brian Wilson depois, a banda gravou também alguns --- possivelmente muitos, mas ainda estou aprendendo --- discos que ficam num meio caminho entre esses dois extremos, discos que parecem apenas flertar saudavelmente ora na direção de uma coisa, ora na direção de outra. Aparentemente relacionado à diminuição do protagonismo do instável Brian Wilson, esse equilíbrio resultou em álbuns como o Surf's Up, de 1971, disco que me agrada bem mais do que, por exemplo, o Pet Sounds. Sim, estou ciente de que o Pet Sounds representa para muita gente o momento em que a banda atingiu aquele objetivo citado acima, o da busca da perfeição --- o próprio ponto culminante incomparável da música pop ---, mas, sei lá, alguma coisa meio perfeita demais, calculada demais, sempre me brochou um pouco na audição desse clássico (evidentemente, sei reconhecer que é um clássico, apesar do meu desinsteresse). E ainda que Surf's Up traga também algumas daquelas famosas harmonias que parecem ter toda uma métrica por trás, a coisa é bem menos ostensiva, e o disco como um todo me soa bem mais espontâneo, de méritos mais diversos, mais naturais e menos meticulosamente articulados. Claro, é tudo uma questão de gosto, mas o fato é que foi uma audição meio incidental de Surf's Up no mês passado que me fez finalmente criar algum interesse pelos Beach Boys.

Bad Religion: The Gray Race

Fui ver o Bad Religion na semana passada, e nos dias que antecederam o show, os álbuns da banda tiveram alta rotação por aqui, com o The Gray Race provavelmente liderando a lista de mais tocados. Na época do seu lançamento, em 1996, lembro de não ter gostado muito: minha impressão inicial foi a de que, pela primeira vez após a assinatura do contrato com a Atlantic Records (braço da Warner), a banda tinha dado uma arredondada em seu som, com a sempre questionável intenção de torná-lo mais atraente para o enorme público genérico típico das grandes gravadores. Os dois primeiros discos gravados dentro da Atlantic são dois dos meus preferidos (Recipe for Hate e Stranger Than Fiction), neles não há sinais muito preocupantes de concessões, mas o The Gray Race eu acabei não aprovando. E daí, tendo comprado o CD e tudo mais (naquela época a gente comprava discos sem necessariamente tê-los ouvido antes), acabei me desfazendo dele não muito tempo depois, trocando ou vendendo, já nem lembro direito. Bom, passados muitos anos, de posse de uma cópia digital (eufemismo para "mp3s baixadas da internet"), até que o disco não me soou tão mal. Ouvi para relembrar, depois ouvi de novo... No fim, subiu um pouco no meu conceito; talvez não o suficiente para figurar na metade de cima de um ranking dos meu preferidos da banda, mas certamente é melhor do que a maioria dos lançamentos que o sucederam (uma exceção é este último, True North, que é bem massa). Seus bons momentos são memoráveis, como Punk Rock Song (letra bobinha mas perfeita para um show), The Walk, Parallel, Empty Causes e Come Join Us. Quem sabe hoje talvez eu não teria me desfeito dele --- arrependimento, aliás, de tal forma frequente que já tomei a decisão de nunca mais me desfazer de disco nenhum que eu tenha comprado.

Kylesa: From the Vaults Vol. 1

E a cota de música pesada nesse mês que passou foi quase que totalmente preenchida pelo Kylesa. O recém-lançado Ultraviolet é muito bom, ainda estou degustando-o aos poucos, mas eu gostei muito mesmo foi do anterior, a coletânea de inéditas e alternate versions From the Vaults, Vol. 1, que saiu no fim do ano passado. Um punhado de faixas nesta compilação permitem entrever que a banda já vinha ensaiando uma expansão de seu som --- o cover de Set the Controls for the Heart of the Sun, por exemplo, é bastante elucidativo sobre os interesses diversos do grupo ---, expansão esta materializada de forma um pouco mais convicta finalmente no Ultraviolet. É claro que muita gente da Igreja Ortodoxa do Metal Supremo vai torcer o nariz, mas eu, que não sou de igreja nenhuma e gosto muito da mistura de sons pesados e viajantes (ainda hei de achar uma expressão melhor do que "viajante"), estou adorando. Nem ouvi direito ainda o novo Neurosis, sequer comprei o novo Sabbath (que eu nem ia comprar, mas depois de ler muitas resenhas surpreendentemente positivas, resolvi dar uma chance), e tudo isso muito por culpa do Kylesa.

Comentários:

Vicente | 05/07/2013

Sua visão sobre a obra dos BB está bem adequada, é isso aí mesmo. Mas não esqueça que a banda passou por uma instabilidade que nunca mais se assentou desde que Brian Wilson surtou durante a criação do infame SMiLE. Eles tiveram que se reinventar frente ao afastamento de seu líder, à necessidade de se adequar à psicodelia que ditava os tempos e a conciliar as diferentes perspectivas musicais dos integrantes. Os discos seguintes a Pet Sounds, excluindo SMiLE que só foi aparecer oficialmente em 2011, mostram gradualmente o processo de tudo parar de girar em torno de B.Wilson e ser diluído entre os outros integrantes. Talvez por esse motivo você perceba o som mais solto e desintegrado. Mas muitos fãs apontam várias qualidades nessa fase assim como você, o que mostra que nem todo mundo menospreza uma força que só apareceria quando instigada pela necessidade de reinvenção. Ironia do destino, ali nos anos 70 o quarteto entrou numa ciranda de resgatar o ícone de Brian e assim persiste até hoje, mostrando que os Beach Boys nunca conseguiram ser percebidos pelo público como algo além da banda de surf music sessentista, o que por sinal é um efeito bastante comum na carreira das bandas: elas ficam marcadas em um determinado conceito quase intransponível.

Fabricio Boppré | 08/07/2013

Sério? Quero dizer, pode até existir uma percepção generalizada deles como banda de surf rock sessentista, mas eles têm também uma grande base de fãs que conhece todo o espectro da música deles, não?

Aliás, acho que tu faz parte dessa base, não? Se sim, tendo sacado aí mais ou menos o meu reencontro com a banda, o que tu me recomenda ouvir na sequência do Surf's Up?

Alexandre Luzardo | 08/07/2013

Eu desbravei a discografia do Beach Boys pós-Pet Sounds (na verdade pós-SMiLE) obsessivamente e apaixonadamente faz um tempinho e tem muitos fragmentos de genialidade enterrados em discos irregulares. Esse Surf's Up é particularmente acidentado, indo da arrepiante Til I Die a umas bobagens inexplicáveis tipo a música do pé (que é divertida) e a da árvore (bizarra demais, doente mesmo). E a faixa título é sem comentários, pena que saiu no disco errado! Os discos que mais gosto dessa fase são o Friends e Wild Honey.

Do Bad Religion eu tenho mais é memoria afetiva mesmo, nunca cheguei a ouvir tanto (sempre tem tempo), e Kylesa nao faz parte da minha area de cobertura (risos).

Vicente | 08/07/2013

Quanto aos discos pós SMiLE, o comentário do Alexandre embasa ainda mais. Cheguei a me aprofundar um pouco mas em função da citada irregularidade da banda naquele período e do mofinho setentista cafona que passou permear os trabalhos dele, logo vi que não era o meu estilo. É irregular, além do fato deles serem uma banda, ahm, careta que obviamente não conseguiria ser mágica simplesmente por embarcar na onda dos tóxicos, ao contrário dos Beatles. Eles teriam que achar seu próprio caminho aberto pela lisergia, mas isso não funcionou com o SMiLE, pelo contrário, deixou um legado catastrófico para eles.

Diria que da ótica do que é interessante (eu gosto muito de discos contextualizados por eventos externos, por exemplo), o Smiley Smile vale a visita por representar um SMiLE desfragmentado, por mais irônico que isso soe, tanto do ponto de vista musical como de como a banda passou a funcionar. Ao mesmo tempo que se tentou aproveitar o material abandonado e as eventuais contribuições de B.Wilson, houve uma chapação desajeitada, um perceptível descontrole e insegurança. Não diria que é um bom disco, mas é um disco curioso para quem gosta da fase Pet Sounds - SMiLE. Meu caso com os Beach Boys é por aí: algumas coisas da fase surf são interessantes por apresentarem o potencial de B.Wilson, mas não são legais para se dedicar uma sessão de audição. A fase Pet Sounds - SMiLE é fora de série. O que veio na seguida é confuso e inseguro até o ponto onde os remanescentes transformaram a banda numa franquia que explora os tiozões ora com o revival dos clássicos do surf, ora com a possibilidade dos fantasmas da "genialidade" do morimbundo B.Wilson enaltecerem um "novo" trabalho.

Fabricio Boppré | 08/07/2013

Bom, não deixa de ser, pelo menos, uma história bem interessante a do Beach Boys. Vou procurar o Friends e o Wild Honey. Quem sabe dou até uma nova chance ao Pet Sounds!

Corgan Cobain | 12/07/2013

Setembro: Violent Soho. São grunge

Vcs não escutaram ainda o Pissed Jeans "Honeys" 2013?

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