Discos do mês - Abril de 2013
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Texto:
Swans: The Seer
Eu já havia escutado um ou dois discos do Swans e não tinha gostado muito. O vocal do Michael Gira, o lance meio industrial --- que nem sei se é uma faceta tão presente assim na discografia da banda, mas estava lá em boas doses nestes discos, cujos nomes não me recordo ---, nada disso me caiu muito bem, e por isso eu nunca fui atrás dos outros álbuns e tampouco estava dando muita bola para este recente The Seer. Mas os elogios que li foram tantos e tão eloquentes que fui obrigado a dar uma chance. E, putz, que negócio mesmerizante. Que discaço absurdamente lindo. Minhas audições encerravam-se já clamando pela próxima, compulsivamente, e não simplesmente porque o disco é bom e eu queria ouvir de novo, mas porque, de algum modo (e me perdoem a viagem), parece que ele não tem fim: ele fica aberto e continua no próprio começo, e assim você é tragado por horas e horas para o universo fascinante daqueles sons. Ou talvez seja melhor dizer que ele parece não ter fim e tampouco começo: é como um pedaço recortado de algo maior, um trecho incompleto que te faz enfileirar audições numa tentativa de, na base da repetição --- descobrindo detalhes, multiplicando as experiências ---, vislumbrar um pouquinho mais deste enorme e espantoso céu. Como toda janela, como todo enquadramento, a coisa tem um limite... Mas que visões esta aqui proporciona.
Pink Floyd: Dark Side of the Moon
Também marcou esse mês mais um bom punhado de audições de Pink Floyd. Nem tanto do meu álbum favorito, mas principalmente dos monumentais Dark Side of the Moon e Wish You Were Here. Com destaque para o primeiro, que é uma destas obras raras de música (praticamente) incontestável, (quase) sobre-humana em sua forma (quase) perfeita e atemporal. Aliás, dia desses escrevi que não me ocorria um fim de disco mais bonito do que o do Monoliths & Dimensions. Que cabeça a minha! Pode um disco terminar melhor do que aquele que termina com a dobradinha Brain Damage e Eclipse?
Wolves in the Throne Room: Celestial Lineage
A coisa mais notável no Wolves in the Throne Room, na minha relação com sua música, é o poder que ela tem de evocar imagens. Essas visões são inicialmente despertadas pela arte gráfica dos discos e pelas fotos promocionais da banda, quase sempre ambientadas em florestas sombrias com suas árvores retorcidas banhadas por luz vacilante que pouco revela do chão incerto e do verde profundo, mas daí por diante, a música --- e meramente os sons, porque obviamente não dá de entender nada do que é cantado --- é incrivelmente poderosa em preencher e dar vida a este cenário. Aliás, vida e morte: o ciclo contínuo de nascimento e decomposição retroalimentando-se num ambiente aparentemente quieto e imóvel, mas na verdade nunca totalmente silencioso e muito menos inerte. Um ambiente onde parece não haver vida, mas só há vida, e onde parece não haver morte, mas também ela está por toda parte. Ouvindo o Wolves, nem sobra espaço para imaginar seres sobrenaturais nem quaisquer narrativas surreais, pelo menos não em primeiro plano: minha imaginação aponta mais para, por exemplo, as fabulosas descrições da magnanimidade da natureza que lê-se no livro O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, ou para a fotografia do filme Anticristo, de Lars von Trier, onde tudo que há de ameaçador parece estar sempre pacientemente à espreita. Enfim, o ponto é: a selva sozinha é capaz de prover beleza e terror mais do que suficientes, e uma trilha-sonora soberba para essa percepção ancestral --- embora meio esquecida neste século, pelo menos na civilização ocidental --- vem sendo gravada pelo Wolves in the Throne Room desde 2004, sendo o álbum Celestial Lineage o seu capítulo mais recente.
Comentários:
Não há nenhum comentário.
(Não é mais possível adicionar comentários neste post.)