Melhores discos de 2023
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:
Crédito(s): A Morte Cansada, de Pavel Karlovich Venig, copiada aqui.
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Antes de escrever alguma coisa sobre meus discos favoritos de 2023, uma observação: praticamente não houve música em minha vida ao longo do último mês do ano que passou, e por conta disso é que não publicarei um “Discos do mês - Dezembro de 2023”. Fui atropelado com tal virulência por uma série de problemas, naquelas últimas semanas, que mesmo do alicerce essencial da minha vida, a música, tive de abdicar provisoriamente para conseguir tempo suficiente para cuidar de tudo que me foi exigido. E mesmo assim não houve tempo. E tudo desmoronou. Mas continuo vivo, e na última semana de 2023 a velha e inquebrantável canção do Pearl Jam que brada catarticamente essa mesma constatação soou o tempo todo em meu cérebro — pena que, tendo passado boa parte do tempo longe de casa e de meus discos, não pude escutá-la. (Suponho que poderia tê-la escutada via YouTube, mas isso, eu que possuo pelo menos quatro versões do Ten em casa, entre CDs, vinis, versões originais e relançamentos, isso eu me nego a fazer.) Continuo vivo, e tendo passado por tudo que passei ao longo de 2023 e, principalmente, nas últimas semanas do ano, é muito pouco provável que 2024 não venha a ser um ano bastante melhor do que foi 2023, de um ponto de vista estritamente pessoal. E isso me anima! Quanto aos discos de 2023, como de hábito, fui anotando ao longo do ano tudo que escutava e gostava, e não foi tarefa fácil eliminar depois uma porção deles de modo que restassem apenas 14 para citar neste post. Mas aí estão eles, em ordem alfabética:
- Autopsy - Ashes, Organs, Blood and Crypts
- Big|Brave - Nature Morte
- Blonde Redhead - Sit Down for Dinner
- Enslaved - Heimdal
- Full of Hell & Nothing - When No Birds Sang
- Kali Malone - Does Spring Hide Its Joy
- Krallice - Porous Resonance Abyss
- Majesties - Vast Reaches Unclaimed
- Meg Baird - Furling
- Quatuor Diotima - Metamorphosis Ligeti
- Shylmagoghnar - Convergence
- Slowdive - Everything Is Alive
- Tim Hecker - No Highs
- Yo La Tengo - This Stupid World
Um monte de discos de metal, percebe-se, e não é por acaso. Pela expurgação, pelo apaziguamento da pulsão de violência, pelo transporte rápido a outros mundos, quaisquer que fossem — o metal foi, sem dúvida, a trilha-sonora predominante do meu 2023, a música que ajudou-me a atravessar um ano calamitoso do início ao fim. Os discos do Autopsy e do Full of Hell testemunham que o grau de agressão que consumo em minha dieta metaleira aumentou bastante, conforme eu já tinha referido aqui. Mas se tivesse que eleger o álbum favorito dentre os favoritos, o escolhido teria nome e sobrenome humanos ao invés de denominação macabra: Tim Hecker e seu No Highs. Lembro imediatamente de trechos deste disco quando, pensando em retrospecto, ressurgem em minha mente alguns dos poucos bons momentos que tive em 2023 (em geral, caminhadas de manhã bem cedo com este álbum nos fones de ouvido). Pouco abaixo estaria o disco de Meg Baird, cuja primeira faixa sempre me lembra os momentos iniciais de Exodus, do Bob Marley, não por semelhança musical, mas sim pela sensação de majestade, de verdadeira majestade, desadornada de ouro e repleta de riquezas do espírito. Adição de última hora — só fui escutá-lo em dezembro — foi o disco dos meus queridos do Yo La Tengo. Minha relação com essa banda é de uma proximidade especial, adoro-os de um modo afetuoso que dedico a bem poucas outras bandas. A música do Yo La Tengo há tempos cresce comigo. Por fim, lamentável foi deixar de fora os discos das Melenas e do Rid of Me, mas, citando-os desse modo, vocês ficam sabendo que adorei-os e assim atenuo um pouco a frustração. Golpe sujo, que repito ano após ano! Que os poucos amigos e amigas que me lêem por aqui, e com quem quase certamente não me comuniquei nos derradeiros dias de 2023, tenham todos um feliz 2024.
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