Encantamento, renovação
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:
Crédito(s): foto de Jão Vicente, copiada daqui.
Texto:
Comecei a ver, de repente, o nome Amaro Freitas por toda parte, nos lugares mais díspares como A Folha de São Paulo e a Pitchfork. Curioso, e munido apenas da informação de que se trata de um pianista brasileiro, fui conferir seu álbum Y’Y e fiquei imediatamente maravilhado. Desafio qualquer pessoa nascida no Brasil e não ficar arrepiado(a) com a faixa Sonho ancestral. Desafio aqueles que, como eu, frequentemente sentem raiva e remorso do Brasil — do Brasil institucional, aquele das notícias dos jornais, que pela força da grosseria e da repetição costuma nos fazer esquecer do Brasil terra-e-cultura: terra vivida e encantada desde muito antes da chegada dos europeus; cultura enriquecida e encorpada pelos tantos povos que vieram depois, mas via de regra marginalizada pela cultura hegemônica branca e ocidental —, desafio-os a escutar este disco e não passar a amar a ideia (nação?) ao mesmo tempo tão terrena e tão abstrata que tem como legado, como filhos, este pianista e esta música. (Para este fim eu costumava tirar da estante meus discos do Egberto Gismonti e da Mônica Salmaso; agora eles ganharam um novo parceiro.) Se recentemente perdemos Nelson Freire, há pouco ganhamos Amaro Freitas. E penso que, mesmo considerando o quanto amo Freire, nesta renovação nós saímos ganhando muito.
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