Dying Days
Seu browser está com uso de JavaScript desativado. Algumas opções de navegação neste site não irão funcionar por conta disso.

Discos do mês - Maio de 2025

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Maio de 2025

Crédito(s): imagem de autor desconhecido, copiada daqui.

Minhas esparsas anotações para este post mencionavam apenas discos de bandas de metal, com uma notável exceção: Time Indefinite, de William Tyler. Sobre este anotei que a sonoridade de sonho da faixa Howling at the Second Moon — sonho que transcorre no passado, no interior de velhos casarões abandonados, os espólios esquecidos de famílias há muito sepultadas — me lembrou muito os discos de Juliana Barwick, e anotei também as palavras "fascinante" e "assustador". Espero encontrar tempo, qualquer hora destas, para elaborar melhor do que posso fazer aqui e agora algumas reflexões sobre este álbum e seu autor. Esta música me atinge em cheio. Há algo mais nela; seus ecos, seus ruídos variados, toda uma camada subjacente parece abrigar mais do que som. Há uma experiência humana acumulada, algo que talvez alguns reconheçam mais, outros menos, sem contar nossas tantas diferentes predisposições, porém eu apostaria que não há ser humano neste planeta que consiga ficar totalmente indiferente diante desta música, seja lá quem for que a escute com verdadeira atenção. É música que soa como o mundo soa hoje: lindo e caótico, assustador e fascinante. Time Indefinite foi a audição mesmerizante das últimas semanas, enquanto a dieta rotineira continua comodamente situada no mundo de faz de conta do metal. A música do capeta continua meu passatempo favorito: tem dias que Dio e Razor impulsionam as horas diurnas de trabalho enquanto Cradle of Filth e Blood Incantation preenchem as noturnas com seus pesadelos tétricos e negrume gótico. Ronnie James Dio eu escuto sempre, é dos meus ídolos mais constantes, adoro os discos de sua carreira solo pós-Black Sabbath. São simplíssimos, até mesmo rasos em termos de ideias e conteúdo, mas a voz de Dio e sua intensidade inigualável compensam tudo. Por certo Sacred Heart não é sua obra-prima, porém tenho voltado a ele com frequência, talvez por conta de sua feição mais rock 'n' roll, talvez por conta das faixas Like the Beat of a Heart e Hungry for Heaven. Razor é descoberta bem recente: se eu tivesse muitos amigos metaleiros, eu me queixaria com todos eles por nunca terem me recomendado Evil Invaders, o maravilhoso segundo disco destes canadenses alucinados. Como meus amigos, em sua maioria, são adultos que ouvem música adulta, não tenho com quem reclamar e nem em quem botar a culpa por só agora, aos 40 e muitos anos, estar descobrindo esta banda, e olha que Evil Invaders é de 1985. Do Cradle of Filth falo depois. Do Blood Incantation: demorei-me para ouvir Absolute Elsewhere, álbum que mesmo antes de seu lançamento meio que todo mundo já sabia que seria bom, talvez ótimo, quiçá obra-prima. A banda vinha evoluindo fulgurosamente, um disco fantástico atrás do outro; havia um clima, uma expectativa de que Absolute Elsewhere romperia mais algumas barreiras e se revelaria o magnum opus do Blood Incantation. Deixei passar o burburinho e vi o álbum figurar em quase todas as listas de melhores de 2024, e escutei-o, finalmente, alguns dias atrás. Absolute Elsewhere não decepciona, mas ainda estou me entendendo com ele. Por vezes tenho a impressão de uma jornada fragmentada demais, uma coleção de riffs e solos fenomenais, e os habituais belos interlúdios, porém tudo isso desconectado, como que faltando algo que conduza, de maneira minimamente previsível ou compreensível, um momento ao outro. Falta uma espinha dorsal? Devo estar me precipitando; provavelmente ela está lá, a espinha dorsal, e o problema é que, arrebatado pela artilharia cósmica deslumbrante da banda, eu ainda não consegui percebê-la. Vejamos se ela me aparece logo mais, hoje à noite.

Comentários:

Não há nenhum comentário.

(Não é mais possível adicionar comentários neste post.)