Dying Days
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Discos do mês - Agosto de 2024

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Agosto de 2024

Crédito(s): ilustração baseada na capa do álbum Powerslave, do Iron Maiden. Autoria desconhecida, copiada daqui.

Cowboy Junkies - Lay It Down

Dia desses acordei cedo, coloquei este disco do Cowboy Junkies para tocar e tudo ficou bem. Os Junkies têm essa coisa mágica da cadência precisa que parece atuar diretamente em nossos ritmos fisiológicos e espirituais, reordenando-os e deixando-os em repouso. É a voz e a bateria dos primos Margo Timmins e Peter Timmins, respectivamente, enquanto o restante da banda parece guiar-se através de um transe. Do ouvinte nada é exigido. Para um breve torpor noturno, terapêutico e sossegado, não conheço banda melhor.

Tomb Mold - Manor Of Infinite Forms

De volta à nossa programação normal: as criaturas psicodélicas que ilustram a capa e a contra-capa deste disco me lembram os monstrinhos de um álbum de figurinhas que completei na infância (este), mas não é por este motivo que venho escutando Manor Of Infinite Forms insistentemente. Quero dizer, é um pouco isso também, mas a música continua sendo o mais importante e a do Tomb Mould é excelente. Há muita coisa acontecedo: riffs tétricos enfileirados, mudanças de ritmo que quase passam despercebidas por baixo da atmosfera espessa de pântano pestilento, percussão avassaladora. Toda a seção rítmica da banda, na verdade, soa um pouco desnorteante se você focar sua atenção muito intensamente nela (é o oposto total da música do Cowboy Junkies), e por isso eu prefiro a parte "pantanosa" da brincadeira, prefiro pairar por sobre os detalhes e apreciar em ampla escala os 40 minutos desta delícia de jornada trevas adentro.

Darkthrone - Total Death

Ao contrário do Megadeth, do Darkthrone ninguém precisa ter vergonha de ser fã. Fenriz parece ser um ótimo camarada para se tomar uma cerveja junto e sua banda é das coisas mais divertidas e originais no reino do metal extremo. Não sou ainda grande especialista na discografia do grupo (que, desde 1993, é apenas uma dupla: Fenriz e o não menos ilustre Nocturno Culto), mas até aqui tenho a impressão de que Total Death foi um dos primeiros esforços do Darkthrone em ampliar seu som, em variar os andamentos e as influências, que passaram a abranger tons de death metal e crust-punk, para além do black metal ríspido dos clássicos Transilvanian Hunger e A Blaze in the Northern Sky. A primeira metade de Total Death é brilhante, praticamente perfeita. Depois, quando resolve retomar o black metal primitivo de outrora, o disco me aborrece um pouco... Mas mesmo assim ele tem ficado frequentemente alojado em meu CD player, rosnando ameaçadoramente para dois ou três outros discos comprados recentemente e que nem tive chance ainda de retirar de seus plásticos. Isto é um delírio, possivelmente um sonho inexequível, mas o Drakthrone é outra banda de quem eu gostaria de ter todos os discos. Já tenho dois, faltam 19.

Iron Maiden - Powerslave

Mas houve um dia em que Tomb Mould e Darkthrone respeitosamente cederam espaço, fazendo mesuras nervosas, à figura monumental do deus egípcio Eddie, conforme ele aparece na capa do insuperável clássico que o Iron Maiden lançou em 1984. É meu disco favorito do Maiden, e o é por conta exclusiva das suas duas últimas faixas, sem que com isso eu queira diminuir o mérito das seis primeiras pois entre elas está Losfer Words (Big 'Orra), que suspeito gostar mais do que todo mundo. Powerslave (a faixa) é o Maiden dono absoluto do jogo, do mundo, do universo; resoluta, impertubável e sinistra do começo ao fim, um monólito em forma de música. O interlúdio de Rime Of The Ancient Mariner há de ser até o fim dos tempos a coisa mais bonita e emocionante que o heavy metal legou ao mundo: toda aquela ambiência, o crescendo lento e de gelar a espinha — é imortal. É muito oportuno escutar ao Powerslave de vez em quando, para nos assegurarmos (nós, que amamos metal) de que não é tudo uma grande perda de tempo.

Comentários:

Ivan Jerônimo | 15/09/2024

Curioso citares o Powerslave como melhor disco do Iron. Foi o primeiro que ouvi, graças a um colega do ensino médio que me emprestou um CD que logo copiei pruma fita. A música da qual mais gostava na época era a primeira mesmo, Aces High.

Fabricio C. Boppré | 16/09/2024

Powerslave é um colosso! O primeiro que escutei foi aquele tido por muitos como um dos piores da banda: No Prayer for the Dying. Por ter sido o primeiro, tenho carinho por ele, mas é de fato bem fraco...

Ivan Jerônimo | 16/09/2024

Quando era criança, eu tinha fascínio pelas capas dos discos do Iron, todas cheias de detalhes. A do Powerslave era a que mais me fazia viajar naquele Egito antigo fantasioso…

Fabricio C. Boppré | 17/09/2024

A criança que tu foste, Ivan, está desculpada: não tinha como não gostar. Eu sou caso perdido: do alto dos meus 45 anos, ainda adoro estas coisas!

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