Dying Days
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Discos do mês - Abril de 2025

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Abril de 2025

Fomos ao cinema assistir Pink Floyd at Pompeii para ver, na tela grande, aqueles quatro cabeludos na flor da idade reproduzindo a música seminal que inventaram, a música que é — e não temo estar exagerando — das maiores conquistas do espírito humano. Oras, de que outra forma descrever Echoes e sua simplicidade assombrosa, sua beleza de abismo? O filme tem alguns efeitos e imagens datados e as entrevistas são acessórios dispensáveis, mas assistir à guitarra de David Gilmour e à bateria de Nick Mason compensa qualquer estorvo, compensa até mesmo ter de atravessar os corredores de um shopping center para chegar à sala de cinema. Nos dias subsequentes, como não poderia deixar de ser, revisitei alguns dos meus discos do Floyd. Sempre tive o Meddle como favorito, mas confesso que parte desta predileção tem o objetivo funcional de me distinguir das multidões que têm o Dark Side of the Moon ou o Wish You Were Here como favoritos. Meddle, na verdade, é um disco algo estranho: sua faixa de abertura parece anunciar uma jornada exilerante, uma aventura perigosa. As quatro faixas que se seguem, contudo, são o Pink Floyd mais descansado e pastoril de todos. É ótimo, mas é esquisito. O final com Echoes, aí sim entramos no território da beleza superior, indizível. Ummagumma não fica atrás em termos de extravagância, mas de outra categoria — da categoria Atom Heart Mother, digamos. Gosto muito do disco de estúdio (gosto, em especial, de Grantchester Meadows e The Narrow Way), mas tirei-o da estante em busca do disco ao vivo, em busca de mais uma dose de Set the Controls for the Heart of the Sun. Não me parece uma versão tão boa quanto aquela que assistimos em Pink Floyd at Pompeii, mas é ótima mesmo assim. Sempre considerei que o Pink Floyd não tem a estima generalizada que merece, suponho que por culpa do amaldiçoado rótulo "rock progressivo". Que deixassem isso com o Emerson, Lake & Palmer e o Magma... Mas eu vinha escutando outras coisas antes da maratona Pink Floyd. Ainda impressionado por uma audição de Sheer Hellish Miasma, encarei alguns dos outros álbuns de Kevin Drumm, entre eles o Imperial Distortion. Neste a matéria-prima não é mais a pedra áspera, a ferocidade bruta de Sheer Hellish Miasma: aqui Drumm trabalha mais com a constância, o silêncio, o som em forma de vapor, se aproximando deste modo da Pauline e da Eliane mencionadas naquele meu último post, percorrendo as sendas da concentração e da devoção percorridas por estas mestras. E não faz feio — longe disso. Mas admito que em algum momento da audição me desconcentrei com a vontade de escutar novamente às The Disintegration Loops do William Basinski, esta sim uma obra-prima que nada fica a dever às obras-primas de Eliane Radigue e Pauline Oliveros. Vejamos se maio trará nova incursão à fantasmagoria sonora de Basinski; com Kevin Drumm, por ora, estou resolvido. Concluo dizendo que em abril escutei Pink Floyd, escutei Kevin Drumm e escutei Deborah Blando. Deborah Blando! Por essa você não esperava, certo? Seu hit radiofônico Innocence andou se intrometendo em meus pensamentos nos últimos dias do mês, resgatado da infância não sei por quem ou pelo o quê, e a única forma que conheço de exorcizar esse tipo de intrusão é escutar à canção, efetivamente colocá-la para tocar, para que seja sugada para fora da cabeça. Não que fosse tão mal prospecto assim; lembro de gostar de uns sinos que tocam na música, uma coisa meio sacrílega, meio profana, ou pelo menos assim se afigurava na mente do moleque de 12 anos que eu era quando a faixa fez sucesso. Achei, finalmente, o disco que tem Innocence, escutei-o. A outra faixa que ficou famosa naquela época, Decadance Avec Elegance, eu descarto junto com quase todo o restante do álbum, mas não é que acabei gostando bastante de uma outra canção de A Different Story? Chama-se Other People's Houses, uma adorável bobagem juvenil que Blando canta com voz sapeca, refrão pegajoso, melodia que não se deixa esquecer fácil. Não sou completamente imune a este tipo de coisa. Se nada mais do que isso, ao menos ajudou a extirpar Innocence do meu cérebro.

Comentários:

Sid | 05/05/2025

Na minha ingenuidade eu espero passar pelo cinema (no meio caminho entre minha casa e trabalho) e ver entre os filmes exibidos esse filme do Floyd, mas é ingenuidade mesmo! O Meddle é o melhor! Depois de Wish you where here, é lógico, seguido de perto pelo More. Cara, abrace o kitsch, mês passado foi Invisible Touch, agora Deborah Blando!

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