Discos do mês - Abril de 2024
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:
Crédito(s): Autopsy em foto de autor desconhecido, copiada daqui.
Texto:
Prosseguindo com a retrospectiva Pearl Jam (maratona-celebração que faço sempre antes da chegada de um novo disco da banda), chegou a vez de tirar o Riot Act da estante e pô-lo para girar. A capa deste disco sempre me faz ficar com vontade de tomar café, então fiz o melhor café que pude e sentei-me para escutar ao álbum que (no meu modo de ver) fecha o ciclo de domesticação da banda. Riot Act não é ruim, mas o café estava melhor. Gosto de sua produção ao estilo da do Yield, mais orgânica e menos comprimida, e gosto de algumas de suas faixas — Save You, Cropduster, Green Disease e principalmente I Am Mine, com sua linha "there's no need to hide, we’re safe tonight” que transformou-se em mantra pessoal e me ajuda a sobreviver noite após noite — porém no todo o álbum parece durar umas duas horas que não raro resvalam no tédio, não? Uma sensaboria perpassa boa parte do tracklist e faz com que este seja um dos poucos discos do Pearl Jam que hoje em dia escuto unicamente por ocasião destas maratonas (Backspacer e Lightning Bolt completam o trio). Não fosse pelo ótimo Gigaton, creio que eu estaria bem pouco estimulado para ouvir este novo Dark Matter, que está para chegar a qualquer momento aqui em casa. O que de memorável voltei a escutar recentemente foi o Wish, do Cure, álbum com o qual passei inúmeras horas em minha juventude, banda com a qual convivi intensamente durante a maior parte de minha vida, porém, nos dias que correm, me sinto cada vez menos impelido a escutá-los. Mas continuo amando o Cure, cuja escalação em minha lista mais resumida de bandas favoritas está garantida para sempre. Não lembro o que me levou de volta ao Wish; terá sido a lembrança de Open e algo ali que compreendo? A lembrança da alegria radioativa de Friday I’m in Love? O que me leva a confessar que, na realidade, o que eu mais vezes escutei ao longo do mês de abril foi uma coletânea que eu mesmo fiz a partir dos meus discos digitais, playlist que nomeei singelamente Minhas favoritas, título que deve bastar como justificação de sua existência. Nela estão Friday I’m in Love, A Forest e Jumping Someone Else's Train do Cure, umas tantas faixas do Pearl Jam e do Midnight Oil, A Little Respect do Erasure e A Promise do When In Rome, Sweet Child o' Mine do Guns e Good Enough da Cyndi Lauper, além, claro, da única canção verdadeiramente perfeita que conheço, E-bow the Letter do R.E.M. com a Patti Smith. Uma faixa do Glassworks abre e Glenn Gould tocando a ária das Variações Goldberg de Bach fecha. Tem também Tears for Fears, Bob Marley, Kate Bush e João Bosco cantando Adoniran Barbosa; tem Clash e Marillion (bem distanciadas, é claro; a coisa tem sua necessária coerência interna) e muito mais — é quase uma centena de faixas. É curioso: nos tempos das fitas cassetes, eu passava horas e mais horas criando coletâneas para ouvir no ônibus, para os fins de semana na praia, para as férias de verão, ou simplesmente para poder ouvir, em qualquer ocasião e lugar, uma determinada sequência de canções queridas… Enquanto que hoje em dia, quando fazer algo desse tipo é tão simples, questão de alguns cliques em poucos segundos, eu quase nunca as faço. Deve ser o que chamam de vida adulta. Por fim, uma nova paixão: Autopsy. Refiro-me à banda, não ao procedimento médico. Até porque, tendo passado tempo demais em hospitais nos últimos tempos, creio estar desenvolvendo aversão à sangue e cirurgias… (Temas que são, evidentemente, da predileção dos veteranos do Autopsy, porém no mundo de faz de conta do death metal, é divertido.) Os dois últimos discos da banda, Morbidity Triumphant e Ashes, Organs, Blood and Crypts, são demais, obras-primas da música extrema anárquica. Adoro os solos de guitarra (se é que se pode chamá-los assim; David Gilmour provavelmente vetaria) que irrompem de repente em muitas faixas, incendeiam tudo durante alguns segundos e evaporam. Death metal que não é repetição exaustiva de brutalidade bestial me interessa ainda mais do que death metal que é só repetição exaustiva de brutalidade bestial, e o Autopsy flerta o tempo todo com o doom, com o crust punk, varia o timbre das guitarras, brinca com introduções climáticas antes de descer o sarrafo, se diverte horrores. Esses caras são mestres.
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