Dying Days
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Céu azulado (demais?)

Vicente M. |
Céu azulado (demais?)

Crédito(s): 2007 / Nonesuch

Quando o Wilco foi mais controverso? Quando a Reprise torceu o nariz para Yankee Hotel Foxtrot ou quando a Nonesuch, certa de mais uma dose de experimentações de sua banda geniosa, deparou-se com a simplicidade de Sky Blue Sky?

Alvo de críticas como dad rock, Sky Blue Sky é voltado para o oposto de tudo o que cercou a banda desde o início da década. O ar desencantado e amargo de dois discos deu lugar à leveza e ao descompromisso que instaurou-se na banda, revelando a faceta relaxada do que se produz no alardeado loft em que ensaiam e gravam. Ao invés de dezenas de masoquismos nos arranjos, a impressão que se tem é que limitaram-se a pressionar REC e deixar os instrumentos rolarem. As canções oriundas dessa orientação mostram um Wilco mais intuitivo e com cara de banda, exigindo dos músicos saídas que normalmente utilizam nos shows, quando tudo tem de acontecer com os recursos disponíveis naquele momento. Paralelamente, como declara Jeff Tweedy no DVD da versão especial de Sky Blue Sky, a temática das letras são "para cima" e mesmo que pessoais (muito evidente em Please Be Patient With Me e Hate It Here), são suaves perto da acidez lírica dos dois álbuns anteriores. Musicalmente, há um forte resgate de influências que vão de Bob Dylan a Beatles, culminando na própria referência ao Wilco de A.M. e Being There, como se a banda de outrora tivesse passado alguns anos sem gravar e retornasse mais experiente e musculosa.

Entretanto, Sky Blue Sky perde quando enfileirado junto à discografia da banda, que evoluiu gradualmente até A Ghost Is Born. O descompromisso e a preocupação com o prazer de tocar e gravar eliminou um dos pontos fortes do Wilco, que era subverter canções simples de forma a torná-las "estragadas", desconfortáveis onde se poderia ter tranquilidade e prazer. Curiosamente, como defende Tweedy, o disco reflete a melhor configuração técnica e musical que o Wilco conheceu e em alguns momentos essa necessidade de fazer com que todos os músicos colaborem se impõe, o que resulta em canções contidas ou objetivas demais, para que todos possam fazer sentido com suas bagagens musicais.

Para que funcione bem, Sky Blue Sky deve ser apreciado isoladamente e encarado como uma obra de abordagem descompromissada. O álbum tem pelo menos três grandes canções, que se não representam traços do Wilco "esquisito", pelo menos se sustentam como ótimas composições dentro da proposta do álbum. Impossible Germany tem lindas melodias e solos belíssimos do ótimo Nels Cline. Sly Blue Sky (a música) lembra um pouco a simplicidade dos shows solo de Tweedy, embora soe suave e agradável e de forma alguma pediria lampejos de experimentalismo sobre seu arranjo. O disco fecha com a bela On And On And On, forte e convincente, dando ao disco alguns pontos extra justamente nos minutos finais da prorrogação.

Ao final, fica o impasse do que poderia ser melhor para o ouvinte. Exigir mais uma dose de experimentos (que poderiam ir longe, como mostra o CD em The Wilco Book) ou aceitar Sky Blue Sky como uma oportunidade para relaxar com a banda em momentos da vida em que belas melodias são suficientes? É, parece controverso.

Categoria(s): Opinião

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