Dying Days
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(O Álbum)

Vicente M. |
(O Álbum)

Crédito(s): wilcoworld.net

A passagem de A Ghost Is Born para Sky Blue Sky foi tão surpreendente para o fã de Wilco como a quebra representada por Yankee Hotel Foxtrot frente a Summerteeth. Algumas críticas e avaliações de Sky Blue Sky amenizaram a vida de Jeff Tweedy com o crédito que merece, como quem diz "ok, você fez um disco para as pessoas cantarem junto, a gente te dá esse espaço, mas que o próximo nos soterre de angústia e desencanto como você vinha fazendo anteriormente". E esse posicionamento não deve ter diferido muito do da base de fãs, que provavelmente conviveu com Sky Blue Sky já pensando no que viria na sequência.

Mas (The Album) chegou mais como uma continuação de Sky Blue Sky, e mesmo assim, um disco de onde se tira pouco para se falar sobre (ou escrever). Enquanto o álbum anterior rendeu linhas sobre seu antagonismo às duas obras que o antecederam, (The Album) apenas é o que é, um punhado de canções sem grandes pretensões, sem a menor necessidade de atender a posicionamentos artísticos ou expectativas. Pode-se ainda ir um pouco mais além: (The Album) não deve ser levado a sério, como acusa a capa adornada pela festa de aniversário presenciada por um camelo (!)(conceito que se perde em tempos de MP3). As ilustrações internas reforçam a tese, com direito a imagens de paletós estilo Elvis e um Jeff Tweedy piscando para a câmera, eliminando dúvidas quanto ao descompromisso do lançamento. Não é aqui, portanto, que se resgatará o lado sombrio e experimental do Wilco.

O desenrolar das músicas confirmam esse direcionamento. Wilco (The Song) é rock básico, cru, coisa que a banda faz na hora em que bem entender. E reforça o descompromisso do disco, afinal de contas, uma música homônima deveria representar o Wilco, e essa faixa dificilmente traduz o conceito que o Wilco tem na cabeça dos fãs. Deeper Down até arrisca uns ruidinhos sonoros no arranjo, mas se houve ali algum interesse em fazer deles uma forma de desconstrução (termo comum em Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost Is Born), talvez tenha sido a tentativa mais frustrada da história da banda. De qualquer forma, o trabalho do excelente Nels Cline fica evidente, mesmo que sua vocação para o avant-garde definitivamente não se encaixe bem no som do Wilco (ao contrário, por exemplo, do finado Jay Benneth). Até que Bull Black Nova tenta uma aproximação com Spiders (Kidsmoke), mas novamente fica a impressão que a banda não estava no clima de experimentar. O disco tem alguns flertes com alt-country (óbvio) em One Wing, Sonny Feeling e I'll Fight, mas fica demasiado insosso com músicas fáceis como You And I. O destaque para os meus ouvidos foi You Never Know, por ser simplesmente uma bela canção para se cantar junto, com toda sua simplicidade e clima good vibrations.

Agora fica a dúvida quanto ao que se pode esperar de Tweedy & cia. a partir desse álbum que é assim, tão rápido e rasteiro. Eles parecem cada vez mais inclinados a compôr pensando na estrada, criando canções de fácil transposição para os palcos e com maior efeito rocker possível. Em algumas faixas eles têm acertado ao ponto de convencer o fã a deixar as demandas artísticas em segundo plano, em outras músicas eles beliscam um mau gosto que faz lembrar da alcunha de "rock de tiozão". Mas se (The Album) realmente nasceu para bagunçar a discografia de vez, bem, os rapazes tiveram sucesso. Assim como colocar um camelo no meio duma festa de aniversário.

Categoria(s): Opinião

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