Dying Days
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Puro Miasma Infernal

Fabricio C. Boppré |
Puro Miasma Infernal

Crédito(s): imagem copiada aqui.

Sheer Hellish Miasma, de Kevin Drumm, é uma experiência desconcertante. Sua primeira metade é pura aspereza ruidosa, algo cujo objetivo parece ser nada além de testar os limites da audição humana. Está plenamente desculpado quem fizer cara de nojo e sentenciar que isto não é música. Dependendo do dia, talvez valha a pena argumentar que música é uma tradição cultural e como tal sua aparência varia no tempo e no espaço; talvez teorizar que a arte de Drumm não é apenas música, mas um excesso de música, uma música hipertrofiada, uma experiência sonora que tenta superar o que costuma-se entender por música... Em todo o caso, é improvável que esta discussão aconteça, afinal, Sheer Hellish Miasma não é o tipo de coisa que você coloca para tocar na janta de sábado à noite com os amigos e amigas. Fato é que atravessar a primeira parte do disco exige tenacidade. É somente a partir de sua segunda metade que começa a surgir alguma coisa que, dependendo das aptidões e da resistência do ouvinte, pode ser entendido como uma recompensa. Já habituado à (ou desensibilizado pela) flagelação sonora, o aventureiro que chegou até ali — à terceira faixa, The Inferno — é agraciado com alguma variação na paisagem, que não deixa de ser opressora, porém apresenta-se agora mais evocativa, deixa-se perceber em formas mais nítidas. Entre mudanças de texturas e outras sutilezas, o ouvinte se percebe mais atento: a pedra dura arduamente esculpida começa a revelar enfim um núcleo ou essência escondida. Você percebe: há alguma coisa ali. Sempre esteve, talvez. A mágica desse tipo de música, quando acontece, é assim que acontece: ela não vem sem esforço. Por fim, os 24 minutos de The Inferno desembocam na libertação de Cloudy, um encerramento que se não chega a oferecer algum tipo de racionalidade para o que se passou, ao menos oferece alívio para as escoriações acumuladas na jornada. Só convém ficar atento aos seus momentos finais. Tenho já alguma vivência com este tipo de som e, nas minhas preferências, não chego a colocar Kevin Drumm ao lado de Pauline Oliveros ou Éliane Radigue, duas compositoras que trabalham basicamente com as mesmas formas de Drumm, mas entendo que para quem gosta de ser desafiado por arte sonora radical, Sheer Hellish Miasma é incontornável. (E, aventureiros e masoquistas destas paragens, regozijai-vos: saiu há pouco sua continuação.)

Categoria(s): Opinião

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