Heavy metal roundup - Edição do começo do inverno '25
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Crédito(s): foto de autor desconhecido, copiada daqui.
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Correm os primeiros dias do inverno de 2025, os cobertores e edredons já se amontoam sobre a cama. Adoro a rotina da alternância das estações. Em contrapartida, há muito esquecida vai a época em que, após suada economia, comprávamos um CD e durante os três ou quatro meses seguintes aquele novo disco se transformava em nossa própria vida. Hoje em dia o melhor que consigo fazer é não esquecer dos nomes das melhores bandas que descubro... Espero, particularmente, não esquecer os nomes das duas primeiras que seguem abaixo.
Chapel of Disease - ...And as We Have Seen the Storm, We Have Embraced the Eye
Este disco claramente não se subscreve na ortodoxia do death metal (berço do Chapel of Disease), não foi feito para agradar aos fã da velha guarda, gente por natureza avessa à mudanças e modernidades. Produção cintilante e de primeira, melodias altivas e refinadas, solos meio bluseiros (!)... Um solo que se parece com o Mark Knopfler dos primeiros discos do Dire Straits (!!), logo na primeira faixa. Loucura! Blasfêmia! É sensacional.
Morbus Chron - Sleepers in the Rift
Este tem mais chances de agradar às tribos mais xiitas por soar tematicamente mais elementar e, no vocal, aquele desespero visceral do Obituary, coisa que consta no cardápio de quase todo fã de death metal. Mas o Morbus Chron não vive de replicar bovinamente os mestres de anteontem: Red Hook Horror é uma delícia D-beat enquanto The Hallucinating Dead e Lidless Coffin são death-doom de primeiríssima, diversão pura para quem, como eu, tem o Autopsy em seu altar de bandas favoritas. O espírito old school vem principalmente da produção e do tom das guitarras, que podem parecer deficientes para quem nasceu depois de 1990, mas é assim mesmo. Discaço que está aí desde 2011 e eu, vacilão de marca maior, só fui escutar pela primeira vez uns poucos dias atrás.
Gravel to Grave - Death Racer
Isto aqui eu não sei bem como rotular. Digamos que a alegria que sinto escutando a este álbum é mais ou menos a mesma que os discos do Motörhead injetam em mim: rock 'n' roll anárquico e acelerado com reminiscências de proto-metal setentista (Judas Priest, Accept), a cereja do bolo ficando a cargo do vocal diabólico à moda Spirit Possession, que empresta à coisa um quê de black metal insolente e folgazão. Se com estas bandas de referência (e com "black metal insolente e folgazão") eu não lhe convenci a clicar no botão de play abaixo, sinto informar que seu caso está perdido.
Defacement - Duality
Eu não necessariamente gosto deste disco. Ponho-o para tocar e, sem muita demora, o som passa a desaguar dos ouvidos direto para algum canto periférico do meu cérebro. O álbum avança, torrencial e inclemente, e, apesar do respiro de alguns ótimos interlúdios instrumentais, pouco a pouco uma saturação pesada se espalha pelo corpo, os ouvidos ardem, a mente ferve. No fim, apesar da exaustão da jornada, reconheço alguns dos méritos e a audácia desta banda, e o efeito sonoro deste vocal (vocal? humano?), sua textura de ventania, de tormenta do apocalipse — isso é verdadeiramente impressionante. Deixo-o aqui indicado para eventuais curiosos(as) e/ou desocupados(as) que queiram investigar as lonjuras inconcebíveis que o metal contemporâneo é capaz de alcançar.
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