Dying Days
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Discos do mês - Setembro de 2025

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Setembro de 2025

Crédito(s): Wren & Chicks, de Robert E Fuller, copiada daqui.

Em setembro escutei mais ao canto dos pássaros do que a qualquer outra coisa. Em especial aos sabiás, que por aqui andam berrando alucinadamente a qualquer hora do dia e da noite. Estufam seus peitinhos e trinam e se esgoelam como se anunciando o último dos dias, os bicos apontados para o céu, a altivez em forma de bolota de penas. Li em algum lugar ou alguém me falou que a cantoria madrugada adentro é culpa das lâmpadas led que estão sendo colocadas nos postes do meu bairro, que fazem os pobres bichinhos não mais distinguirem os dias das noites, e assim para eles qualquer hora é hora. Isso não vai dar certo. Mas a cantoria é muito bonita, toda rítmica e fraturada, às vezes parece que um mesmo pássaro canta duas músicas diferentes ao mesmo tempo, intercalando as notas. Me faltou música feita e executada por humanos porque as últimas semanas foram de uma correria insana, com mil tarefas e compromissos, e pouco estive em condições de fazer qualquer coisa que me permitisse ter música como companhia, que dirá então sentar-me para ouvir aos meus discos. De mais notável, ou "anotável", teve uma revisita aos dois primeiros discos do Smashing Pumpkins seguida de um pulo no tempo e umas duas ou três audições deste álbum esquisito chamado Machina II/The Friends & Enemies of Modern Music, que nem sei se se trata de fato de um álbum, álbum no sentido tradicional da coisa. A revisita aos dois primeiros foi, confesso, mais para justificar ter estas gordas edições especiais ocupando tanto espaço nas estantes do que por apreço às suas músicas. Do Gish nunca fui lá muito fã, embora reconheça que seu charme psicodélico não tratorado pelo grunge antecipe uma banda diferente. Do Siamese Dream é difícil não gostar, mas há algo de bobo nele, de açucarado demais da conta, que dessa vez não me caiu lá muito bem — o que talvez seja perfeitamente natural, dado que entre os jovens que o gravaram e o adulto que sou hoje há 32 anos de separação. Mas Rocket, naquele trecho "sooo-oooon I'll find myself alone...", continua me enlevando como quando eu era adolescente, e o trecho final de Hummer é muito, muito bonito. Machina II/The Friends & Enemies of Modern Music põe ambos estes discos no bolso. É um álbum estranho, de gravação chiada e amadora, com pouca ou nenhuma das concessões às quais estávamos acostumados, mas há canções tão sublimes em seu tracklist que tais problemas não chegam nem perto de me incomodar. Eu continuo adorando a jornada trabalhosa do Mellon Collie and the Infinite Sadness, mas desconfio que é em Slow Dawn e em Speed Kills que reside o ponto culminante do talento para a composição de Billy Corgan. É algo especial, sem esforço, puro e majestoso, de se ouvir mesmerizado. Machina II é cheio de excessos e coisas descartáveis, mas quando brilha, é fascinante. De tão alto que o Smashing Pumpkins chegou, não me surpreende nem um pouco o quão pronfundo eles desabaram... Algumas coisas mais recentes que escutei me deixaram até meio constrangido. Uma pena. E pouco mais tenho a relatar: lembro de escutar ao primeiro disco do Talk Talk e à reedição de alguma coisa mais antiga do Aphex Twin, mas foram audições desatentas, pura música de fundo; escutei também ao Crooked Rain, Crooked Rain do Pavement enquanto arrumava algumas caixas de livros e CDs após uma reforma aqui em casa, e lembro de parar por um momento e ficar muito feliz quando começou Range Life. Pavement: aí está uma banda que eu deveria escutar mais vezes. Por fim, este sim com mais atenção, escutei ao novo disco de Steve Gunn, Music for Writers, um vaporoso e delicado interlúdio intrumental, o violão tranquilo de Gunn costurado sobre ambiência eletrônica cintilante e fugidia. A música transcorre linda como um encantamento, uma manhã em algum rincão afastado do mundo, onde as notícias urbanas não chegam. Belo disco já inscrito em minha lista de melhores de 2025. E é isso — despeço-me. A rotina vem aos poucos voltando ao normal, bem a tempo de desfrutar adequadamente da estação das bruxas, o que significa ouvir generosas doses de metal. Quanto aos sabiás, por ora nada indica que pensam em sossegar. Se a teoria da iluminação noturna for furada e essa cantoria toda significa apenas acasalamento, claramente existe uma plano em execução para se multiplicarem e dominar o mundo.

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