Dying Days
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Discos do mês - Setembro de 2023

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Setembro de 2023

Crédito(s): detalhe da capa do álbum The Colour Of Spring, copiado daqui.

Voltei ao Nirvana após ser assaltado pela lembrança de Spank Thru, desde sempre uma das minhas faixas favoritas da banda (e, de acordo com Krist Novoselic nas notas de From the Muddy Banks of the Wishkah, "the first Nirvana song"). Dos CDs que tenho, From the Muddy… é o único que traz Spank Thru em seu tracklist, então foi este que puxei da estante e por uma semana e pouco não o larguei mais. Por aqueles dias, no começo de setembro, eu andava ouvindo também ao Use Your Illusion do Guns N’ Roses, na recente edição especial que compila os dois volumes remasterizados junto com as gravações de dois shows, e constatei novamente todos os enormes contrastes que existiam entre os dois grupos. Eram duas bandas formadas por jovens brancos norte-americanos que tocavam rock ’n’ roll no limite da agressão então permitida pelos cálculos de viabilidade comercial de ampla escala (um pouco além deste limite, talvez, ao que a indústria do entretenimento logo se adaptou, graça e mérito de ambas as bandas), mas o que elas tinham em comum fica por aí; de resto, habitavam galáxias diferentes, como todo o mundo sabe. Mas no que eu mais reparei desta vez é como, ao contrário dos discos do Guns, em cujos tracklists cada faixa extraordinária, cada hino de todo garoto e não poucas garotas que ouviram rádio nos anos 80 precede e sucede três ou quatro engodos completamente irrelevantes e descartáveis, e no caso deste Use Your Illusion o todo formando, não obstante os hinos, um maratona cansativa demais que nunca deveriam ter permitido que fosse embalada assim num único pacotão sob o risco de diminuir o legado da banda, efeito para o qual o mero fato do Guns continuar existindo já deveria ser mais do que suficiente — o que eu mais reparei, resumindo, em abissal contraste para com o repertório do Guns N’ Roses, é como cada faixa do Nirvana era uma pérola perfeita, o encapsulamento integralmente realizado de uma visão musical. Você pode não gostar, pode achar assim ou assado, Kurt Cobain isso, Kurt Cobain aquilo, não importa — o Nirvana existiu por um punhado de anos, deixou cerca de uma centena de canções originais gravadas e cada uma delas é essencial, cada uma delas carrega consigo e reflete exuberantemente, ainda hoje, passados 30 anos da morte de seu compositor, a justificativa plena e completa para a existência desta banda. Cada uma delas, sem exceção, bastaria. Não foi uma banda como outra qualquer, o Nirvana. Seguiu-se ao Guns e ao Nirvana, como não poderia deixar de ser, uma sessão noventista, com seus altos (algumas gravações ao vivo do Pearl Jam safra 1994, 1995 — a banda em seu auge) e seus baixos, sendo que destes o ponto mais baixo, o fundo do poço, foi o segundo disco do Silverchair, Freak Show, que coloquei para tocar depois de muitos anos apenas para confirmar se o disco era mesmo tão ruim quanto eu lembrava. É. Penso que os rapazes da banda não precisavam ter elaborado títulos para as faixas; para efeito de praticidade bastava indicar a quem plagiavam em cada uma delas: “nessa nós fingimos ser o Nirvana” (Lie to Me não é simplesmente Territorial Pissings?), “nessa, o Alice in Chains”, “nessa, o Soundgarden”, e por aí vai. Se quisessem soar crípticos, ou bem-humorados, poderiam ter feito anagramas, sei lá. E as letras das canções, que coisa constrangedora. (Não serem tão ofensivamente ruins como as do Guns N’ Roses não significa muita coisa.) Mas na metade final do disco, como recompensa para quem atravessa a inicial, escondem-se uma ou duas faixas menos ruins, que com um pouco de esforço e uma flexibilidade maior no meu senso de vergonha consigo até dizer que gosto, e foi o despertar de suas lembranças o que me fez voltar ao Freak Show uns dias depois. O que agora não deve voltar a repetir-se antes de 2050. Ao Nirvana, Guns e Silverchair seguiu-se um passo cronologicamente para trás, em direção aos anos 80, com uma renovada obsessão pelo The Colour Of Spring do Talk Talk. Minha paixão por esse disco já foi declamada por aqui em outras ocasiões, então hoje mencionarei apenas que talvez este disco tenha finalmente adentrado minha mais seleta lista dos favoritos de todos os tempos. Os dez, seria? Creio ser esta a mais concisa que posso fazer, ou talvez seja o caso de aumentá-la agora para 15… Ao Nirvana, Guns, Silverchair e Talk Talk seguiram-se outras coisas, música sobretudo do reino do heavy metal, essa patologia da imaturidade para a qual não consigo achar cura (talvez devesse estar procurando pela maturidade). Nada muito memorável, em todo o caso, nada que tenha feito animarem-se meus dedos e neurônios para registrar por aqui algum pensamento, alguma opinião, alguma piadinha. E depois seguiu-se mais nada, já que o mês acabou. O próximo post trará música escutada já sob os auspícios da primavera, o que em outras épocas teria grande significado para mim, porém em 2023 algo parece fora de lugar: se o que tivemos há pouco foi um inverno, o que teremos na sequência ninguém sabe o que será, ou fingimos não saber, ou optamos por sequer cogitar. Precisamos de uma pouco de paz, afinal de contas, para continuar a ferver o planeta e imprimir dinheiro com a máxima eficiência possível.

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