Discos do mês - Outubro de 2021
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:
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Deftones - Ohms
Embora não possa me dizer um fã de Deftones, mal não me faz escutá-los, e até faço isso de livre e expontânea vontade de vez em quando. White Pony é inegavelmente um dos grandes discos de rock do século XXI. Não havia, portanto, motivo algum para não experimentar este Ohms quando esbarrei com ele num arrebalde escuro uns dias atrás... Escutei-o e, talvez devido às circunstâncias, gostei bastante do disco. As circunstâncias eram (são): tenho ouvido quase que exclusivamente metal. Death metal, black metal, doom, thrash, blackened thrash (aposto que você não sabia da existência disso), prog-death (existe, eu juro), quase-qualquer-coisa-metal… Deus do céu, confesso que até power metal andei ouvindo às escondidas, criancices do tipo Helloween e Stratovarious, e a continuar neste ritmo calculo que antes de terminar o ano acabo escutando Manowar. E conquanto este seja um estado mental que consigo sustentar por diversas horas seguidas, principalmente enquanto trabalho diante do computador, às vezes me vejo obrigado a dar uma folga ao meu cérebro, uma pausa na mentalidade mágica exigida para se apreciar este tipo de música, uma suspensão da suspensão da descrença que as bandas de metal requisitam para sua plena fruição. Foi numa destas ocasiões que escutei ao disco do Deftones — decerto não exatamente algo que se diga música para adultos por excelência, mas pelo menos o vocalista não canta fingindo ser uma criatura peluda monstruosa ou uma ninfa celestial — e gostei bastante. Então posso estar errado, enviesado pelas lesões cerebrais acumuladas nestas últimas semanas de overdose metálica, mas a impressão que me ficou deste novo Deftones foi bastante positiva.
The Body & BIG | BRAVE - Leaving None But Small Birds
Também este é um disco que se enquadra na categoria dos “não-metal”, porém ouvi-lo foi um acidente — um maravilhoso acidente, note-se. Resolvi experimentar Leaving None But Small Birds porque sou fã do The Body, de quem sempre se espera música barra-pesada, sólida, um tipo de metal menos eurocêntrico e mais contemporâneo. Gosto muito dos discos desta dupla; os canadenses do BIG | BRAVE, por outro lado, eu ainda não conhecia. Achando que escutaria algo na linha do The Body, fui imediatamente surpreendido — arrebatado é a palavra certa — por algo muito diverso, muito mais rico e requintado. Não há o peso tradicional do metal e são poucas as intervenções das guitarras truculentas do The Body, mas há um clima algo místico, ensombrecido, um esoterismo solene de outros tempos que me cativou de imediato. Há muito de música folk e blues (satânico) e uma gravidade que não vem do volume ou da agressividade, mas sim das sugestões da música, de sua circunspecção, das formas passadiças que às vezes ela assume e abandona sem deixar traços. Há, sobretudo, a fantástica voz da cantora do BIG | BRAVE, Robin Wattie. Em suma, um disco extraordinário. O curioso é que o BIG | BRAVE, fui descobrir depois, faz também uma música carrancuda e desafinada que orbita o mesmo centro da do The Body, ou seja, de onde vem a música que estas duas bandas urdiram juntas é um mistério que só deixa Leaving None But Small Birds ainda melhor.
Panopticon - ... And Again Into the Light
Este talvez seja, dentre os muitos que ouvi até o momento, o disco de metal do ano para mim. Eu já tinha escutado ao Panopticon anteriormente; trata-se de uma destas bandas difíceis de ignorar. Seus discos despertam paixões intensas, sejam de atração ou de repulsa, e eu tendia a sentir mais os efeitos desta última força: achava meio indigesta a mistura de metal extremo e bluegrass concebida por Austin Lunn, o prócer da banda. Mas algumas resenhas muito entusiasmadas sobre ... And Again Into the Light atiçaram minha curiosidade e me convenceram a experimentá-lo, no que se revelou rapidamente uma decisão muito acertada. É de fato um disco excepcional, com alguns momentos de catarse brutal de beleza estonteante, ápices de peso e ferocidade emocionantes para os tipos excêntricos que somos nós os fãs da música do mal. São tais e em tal magnitude estes momentos que eu, para ser franco, nem sei o que dizer sobre os enxertos de música country e bluegrass que costumam aparecer inoculados nos discos do Panopticon, mas que realmente não me recordo se aparecem neste (1). Se aparecem, ou bem eu nem reparei ou acabam completamente ofuscados pelos estrondos arrasadores das melhores partes de ... And Again Into the Light. Discaço.
(1) Voltei ao disco depois de ter escrito estas linhas, e sim, há alguma instrumentação de música folk antiga aqui e ali. Continuo achando a combinação bastante estranha, inconciliável, porém neste ... And Again Into the Light ela me pareceu menos desfavorável ao álbum como um todo, não sei se devido a um uso mais moderado ou quem sabe ao aperfeiçoamento das habilidades de Lunn. A primeira faixa é quase toda acústica e muito bonita. Se há banjos dedilhados, é muito pouco. Banjo e black metal, definitivamente, não dá liga. ↩
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