Dying Days
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Discos do mês - Março de 2025

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Março de 2025

Crédito(s): cena do filme Jungfrukällan, de Ingmar Bergman.

Genesis: tudo indicava que minha passagem pela vida seria destituída de relações com esta banda. Tempos atrás, durante a época formativa da adolescência em que procuramos conhecer todas as grandes bandas para entender porque são consideradas grandes, escutei a um ou dois discos do Genesis e só me lembro da certeza inequívoca da conclusão de que aquilo não era para mim. Mas era o Genesis antigo, anos 70. Eu não sabia que havia um Genesis cafona anos 80, um Genesis radiofônico, liderado por Phil Collins trajando ternos com ombreiras e mangas arregaçadas. Um Genesis que é, decerto, menos honesto do que o Genesis original, contudo, sendo eu um filho dos anos 80... A história deu-se assim: escutei na playlist do Spotify de um amigo uma canção chamada In Too Deep e me afeiçoei de imediato pela sua meiguice, sua breguice romântica e vulnerável. Reconheci, evidentemente, a voz de Phil Collins, cujos discos solo não conheço, mas, lembram?, sou um filho dos anos 80 e tive Another Day in Paradise e mais dois ou três de seus hits gravados em inúmeras fitas cassetes. In Too Deep tinha toda a estampa de pertencer a algum trabalho solo de Collins; muito me admirei, portanto, quando logo depois descobri que ela está no tracklist de um álbum do Genesis. Chegado em casa, baixei o disco (chama-se Invisible Touch) e escutei-o quatro ou cinco vezes — mais, portanto, do que eu havia escutado Genesis nos 45 anos anteriores da minha vida. Não que seja música memorável, não que seja grande arte. É pouco mais do que overdose de anos 80 injetada nos ouvidos, o pacote completo de cacoetes de produção, de melodias, a celeridade yuppie ingênua e sintética. E Phil Collins. Passada a febre, não sei se voltarei a escutar Invisible Touch alguma vez na vida, mas foi divertido. O mundo não nos tem dado descanso, não é mesmo? Música é mais barato do que terapia (como ouvi alguém dizer dia desses) e faz menos mal pro fígado do que vinho (digo eu), e defendo intransigentemente o direito que temos de recorrer ao que tivermos à disposição para sobreviver e seguir em frente com alguma alegria. Serve Genesis; serve Mars Volta: também esta uma banda que nunca pensei que me serviria de grande coisa, mas este novo álbum, Lucro sucio; los ojos del vacío, é sensacional. A extravagância urgente dos primeiros discos do grupo parece bastante declinada em prol de uma fluência e de uma ambiência que me atraiu desde a primeira audição. É um disco meio espacial, meio lisérgico; o espírito de um Miles Davis descansado ronda algumas canções. Agora sim o fim do At the Drive-In me parece justificado! Não foi, aliás, uma faixa casualmente escutada fora de casa o que me levou a escutar Lucro sucio; los ojos del vacío. O que terá sido? Alguma intuição hiper desenvolvida, presumo. Para finalizar com algo que adoro sem ponderações e nem ressalvas: sempre coube ao Spy vs. Spy o posto de minha segunda banda australiana favorita, porém agora, após longo e extasiante mergulho em sua generosa discografia, a posição foi reconcedida ao Church. É impressionante: são quase 30 álbuns e não há um único dispensável. É mais do que impressionante: são quase todos excepcionais. A Box of Birds, por exemplo, é uma coleção de covers que não raro superam os originais. Não é o caso da versão de Cortez the Killer (falta, naturalmente, a guitarra de Neil Young), mas ela fecha o disco de maneira emocionante, toda aquela morosidade, a lenta construção da canção, que vai inebriando o ouvinte — uma linda, linda transcrição. Não fosse minha banda australiana favorita também a maior de todas as minhas paixões musicais e o Church talvez estivesse no topo deste ranking.

PS: O disco do Mars Volta não se encontra ainda cadastrado no Discogs, por isso sua ausência na lista de discos mencionados abaixo.

Comentários:

Sid | 10/04/2025

A cada ano que passamos os anos 80 parecem mais fazer sentido. Não se recrimine, EngHaw, Cindy Lauper e Metrô convivem lado a lado com Smiths, The Cure, Titãs/Paralamas/Legião na minha memória afetiva. Ainda os ouço. Esses dias encontrei num sebo o primeiro do Léo Jaime, que felicidade! No mesmo sebo eu pesquei minha cópia do The Lamb Lies Down on Broadway (em excelente estado) e o After Gold Rush do Young. Boa notícia esse novo do The Mars Volta. Pelo que você disse ele é uma continuação do downsizing que começou no Nocturniquet. Isso é bom! Já escutou Wish Defense do FACS?

Fabricio C. Boppré | 11/04/2025

Não conheço FACS, Sid. Encontrei-os no Bandcamp, vou escutar daqui a pouquinho. A música (e alguns filmes) dos anos 80 é um ninho para o qual eu volto com frequência. Mais do que eu gostaria de confessar...

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