Janeiro / 2014
Vicente M. |Imagem principal:

Texto:
Have A Nice Life : Deathconsciousness (2008)
Internet tem dessas coisas de você conhecer uma banda relevante de uma hora para outra. Normalmente isso ocorre com bandas novas que estão lançando seu trabalhos mas às vezes você é apresentado a discos que já estão aí "mudando vidas" há alguns anos. É o caso de Deathconsciousness, que conheci no final do ano passado quando foi liberada a preorder do disco recente deles, The Unnatural World. Enquanto o disco novo não vazava, fui atrás do tão estimado debut, de 2008, de onde provinham comentários nada menos do que fantásticos a respeito. E não houve como não me penitenciar por não conhecê-lo antes.
Deathconsciousness é um disco feito por dois caras que gostam mais ou menos das mesmas bandas que eu e fizeram um disco que eu provavelmente tentaria fazer dentro desse contexto, se tivesse uma banda. O disco parte de uma estrutura um razoavelmente simplória de construção, onde é onipresente o feeling de que tudo foi feito com poucos recursos através de quatro mãos. O interessante é que o resultado tem ares gloriosos que transcendem essas "restrições" e por consequência, transpira honestidade, o que deixa o ouvinte muito próximo para se corresponder com a obra. Embora o shoegazing prevaleça, a combinação sonora envolve drone, post rock e metal. Esses elementos sustentam uma temática onde convivem pretensão e ingenuidade e que fatalmente eclodem em melancolia e trevas. Quem se interessa por desilusão sonora encontra no disco um prato cheio: desde o ritmo arrastado e envolvente de Bloodhail até a decadência total de I Don't Love. Apenas em Earthmover, que fecha o disco, o duo deixa um gostinho de redenção.
Infelizmente (ou não), Deathconsciousness só pode ser ouvido via MP3 pois as versões físicas em vinil e CD esgotaram rapidamente, bem como suas reedições. Ambas foram lançadas pelo selo da banda com grande esmero (um volumoso livro as acompanham, cabe citar) e na melhor política do it yourself. Entretanto, o selo que lançou o disco mais recente deles tem planos de reeditar Deathconsciousness em 2014, o que cria um horizonte perfeito para valorizar nossas coleções.
Sunn O))) : LA Reh 12 (2014)
Segundo capítulo da série de ensaios onde a dupla desfere toneladas de riffs e reacende a chama que os trouxe à Terra em The Grimmrobe Demos. É o contraponto com a esperada colaboração com os escandinavos do Ulver em que eles voltam-se para uma abordagem "refinada", pouco relacionada com o que os seus ouvintes menos (não curto esse termo, mas vá lá) ecléticos tolerariam. Mas LA Reh 12 é para quem quer mais doses do combo guitarras + amplificadores, com direito a intromissão de samplers de uma multidão desesperada em desencanto, dando ares decadentes ao registro. Parece fácil, mas eles continuam mestres na arte de criar camadas malignas de riffs para você meditar.
My Bloody Valentine : Loveless (1991)
Vou me privar de comentar a respeito do conteúdo do álbum, já o fiz inúmeras vezes e acho que tem resenha minha aqui na DD dedicada a ele. Mas acho que cabe citar, de passagem, que esse disco insiste em dar as caras, é um refúgio. Tô sempre tentando me convencer que já me acostumei com as batidas de I Only Said, com a hipnose de To Here Knows When ou que sei exatamente quantas guitarras foram gravadas e como elas são combinadas em What You Want. Mas no final eu sempre concluo que estou equivocado e tenho que ouvir tudo novamente.
Comentários:
Cara, quase que incluí o Loveless também no meu último "Discos do mês", pois andei ouvindo-o bastante umas semanas atrás. E eu já tinha até formulado mais ou menos na cabeça um comentário bem parecido com o teu, sobre o fascínio dos sons soterrados que existem nesse disco.
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