Discos do mês - Maio de 2013
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

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Pearl Jam: Binaural
Um fato banal me fez tirar um Binaural bastante empoeirado da estante: o aniversário de 13 anos de seu lançamento, completados dia 16 último. O Pearl Jam é aquele som ultra-familar que funciona quase sempre (meu perfil no last.fm não me deixa mentir), mas tenho ouvido bem pouco ultimamente, e, normalmente, seria bem pouco provável puxar para ouvir justo esse disco, que no meu ranking da discografia da banda figura na frente apenas do Backspacer. Mas aí vi o lance do aniversário, relembrei com incríveis detalhes do dia em que o comprei --- chegando em casa de noite, tirando o CD da mochila, abrindo o plástico, o cheiro particularmente forte do papel e da tinta do encarte, botando para tocar antes de sequer tirar os tênis --- e acabei ficando com vontade de ouvir o punhado de canções que há ali e que de fato gosto bastante. Grievance, Sleight of Hand, Parting Ways, Soon Forget são faixas bastante boas, que me fazem até considerar por alguns instantes que talvez o meu julgamento sobre o álbum seja um pouco rigoroso demais... Será que ele não merece ganhar a posição logo acima, ocupada hoje pelo disco azulzinho auto-intitulado? Questão seríssima a ser analisada com muito cuidado nos próximos dias.
Ramones: Acid Eaters
Revelei meu amor insofismável pelo Acid Eaters numa mixtape recente, ocasião em que eu passava novamente por uma semana embalada principalmente por esse disco. Uma coisa curiosa é que os três sons que eu mais gosto do Acid Eaters são cantados pelo CJ Ramone: Journey to the Center of the Mind, The Shape of Things to Come e My Back Pages. É claro que o Joey é a voz do Ramones, mas sempre gostei bastante do pique das músicas cantadas pelo CJ. E daí veio a notícia de que ele, CJ, toca aqui em Florianópolis agora em junho. Fiquei dias e dias com a dúvida: devo ir assistir pois é o mais próximo que poderei ver dos Ramones na minha vida --- ainda mais próximo do que quando o Marky subiu no palco do Pearl Jam em Porto Alegre, em 2005, e tocaram I Believe in Miracles? Ou deixo passar justamente pelo mesmo motivo, ou seja, é deprimente demais que só isso é o mais próximo que verei dos Ramones? A dúvida permanecia; a chance de vê-lo cantar esses três sons do Acid Eaters fazia a balança pender levamente para a primeira opção quando então nova notícia: estarei viajando no dia do show. E nem deu de lamentar: na cidade onde estarei, exatamente no mesmo dia do CJ em Florianópolis, lá vai rolar Bad Religion. Nada mal.
Pinback: Blue Screen Life
O Pinback é uma dessas raras bandas que teve a manha de ter forjado um som para si --- quero dizer, até onde sei, eles assim o fizeram. Uma certa percepção auditiva-visual que se forma na minha cabeça quando ouço o Blue Screen Life e o Summer in Abbadon, meus dois preferidos da dupla, é de um som todo estilhaçado e costuradinho. As vozes dobradas adicionam mais uma boa camada de delicadeza à coisa toda, mas o resultado final não soa a excesso de elaboração nem nada; é um som ímpar para relaxar, ouvir na praia, ou para quaisquer fins de contemplação ou equilíbrio de pressão arterial.
Midnight Oil: Diesel and Dust
Finalizo com o disco que mais devo ter ouvido nesses últimos dias, o clássico de 1987 dos australianos do Midnight Oil, Diesel and Dust. Minha relação com o Oil começou na infância, pelos mesmos motivos e circunstâncias da grande maioria de seus fãs, porém sempre acreditei que a banda possuía virtudes para angariar um público mais amplo do que aquele seu nicho praieiro --- e também para além, claro, do transitório nicho dos seguidores dos sucessos radiofônicos. Mas por falar em sucesso radiofônico, é nesse LP que estão as outrora onipresentes The Dead Heart e Beds Are Burning, faixas que tocaram tanto por aqui que até os nossos avós devem se recordar de seus riffs e tchu-ru-ru-rus marcantes. No entanto, os sons mais legais do álbum não foram usurpados pelas rádios, como foram estas duas; me refiro a Sell My Soul, Dreamworld, Whoah e Sometimes, faixas excepcionais que podem perfeitamente fazer a alegria não somente de surfistas e ambientalistas, mas de qualquer um que goste de um rock raçudo e invocado, de textura meio pop mas roçando no punk (e que tenha, claro, uma dose de tolerância --- ou alguma fixação patológica --- com os anos 80, de onde pouquíssima gente saiu incólume). Acho até que esses sons passam pelo teste do tempo com mais méritos do que as desgastadas The Dead Heart e Beds Are Burning, que hoje me parecem apreciáveis apenas quando ouvidas num intenso clima místico de nostalgia. Mas ainda assim o disco todo é muito bom, e se não fosse pelo Breathe, que a banda lançaria quase uma década depois, Diesel and Dust provavelmente ficaria como a obra-prima do Oil para a posterioridade, posterioridade que quem sabe ainda venha a conferir à banda o seu devido valor.
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