Dying Days
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Diários de Capa e Encarte

Natalia Vale Asari |
Diários de Capa e Encarte

Crédito(s): Amazon

Um trecho do livro Diários de Bicicleta, do David Byrne, apenas para reacender a velha troca de idéias aqui no blog sobre tecnologia e música.

[Em conversa com Stefan Sagmeister] Falamos sobre o destino das imagens e dos projetos artísticos associados aos LPs e CDs --- coisa com que ele trabalhou em diversas ocasiões. Ele me lembrou de que a ligação entre imagem e música só surgiu graças à fragilidade do vinil, o que fazia com que os discos precisassem de embalagens resistentes. E até relativamente pouco tempo atrás, nem essas embalagens vinham com imagens, créditos, notas do artista, nem nada --- no começo, a embalagem de discos era genérica. As pessoas apreciaram suas músicas por séculos sem nenhum artifício visual complementar ou embalagens cativantes. Por outro lado, fiquei sabendo que quando Alex Steinweiss fez a primeira capa para a sinfonia Eroica de Beethoven, a embalagem provocou uma explosão de vendas. Sendo assim, o poder das capas não pode ser subestimado. O pacote musical evoluiu para se tornar a personificação de uma visão de mundo representada não só pela música, mas também pelas embalagens, artistas, bandas, shows, roupas, videoclipes e todos os outros materiais periféricos. Mas muito em breve tudo isso pode voltar a se resumir apenas ao áudio graças ao mundo digital, em que pessoas podem comprar versões digitais apenas da canção de que elas gostam, enquanto todo o resto, materiais secundários e imagens são esquecidos ou ignorados. A era da nuvem de dados que fez da música pop um elemento representativo da percepção de mundo pode estar com os dias contados. E Stefan não me pareceu muito nostágilco em relação a isso.

Comentários:

Fabricio Boppré | 30/07/2010

Pois então, lembra algo que eu escrevi aqui tempos atrás --- houve época em que sequer gravada era a música! Por isso, é saudável nos colocarmos em nosso lugar e aceitar que quaisquer amargura que tenhamos com o fim do álbum físico é mais um problema pessoal nosso, que tem a ver com nossa formação e nossa época, uma resistência pessoal (e natural) nossa para com mudanças naquilo que nos acostumamos, crescemos juntos, e não um problema universal, uma corrupção de alguma beleza eterna e que deveria ser preservada. Claro, para os discófilos como eu e o Vicente, isso não ajuda muito, continuaremos sentidos com o estado das coisas... Mas não há o que fazer e nem a quem acusar.

E naquele post antigo citado pela Nat, tinha uma referência a um projeto da Apple de popularizar uma espécie de álbum digital com conceito próximo (na medida do possível) do físico, com arte gráfica e tudo mais, mas nem lembro o nome da parada, nem sei se a idéia prosperou... fiquei curioso, mas nem pesquisar no Google eu consegui, pois realmente não lembro o nome do negócio!

Ana | 02/08/2010

Infelizmente parece que é pra onde a música está indo, assim como todo o resto. Eu me sinto meio que observando isso tudo à margem, porque simplesmente faz muito tempo que parei de comprar música nova, e os últimos CDs que comprei foram álbuns dos anos 90 pra baixo que acabei encontrando novinhos em sebos. :-) Acho que é sintomático, triste e mesmo assim difícil de evitar. Aquele monte de música que você acaba descobrindo a genialidade só anos depois de ter comprado o álbum pode estar com os dias contados. Ou não, se você for um doente que vá lá e baixe tudo de uma vez. Talvez a música digital só esteja abrindo mais ainda o abismo entre a pessoa que conhece a faixa pelo rádio (e talvez, se tanto, vai comprar aquela uma online) e o aficionado. E daí tem absurdos de aficionados via last.fm. Que apesar do começo sinistro (muita gente me diz o quanto as recomendações do site eram ruins), hoje em dia pra mim serve perfeitamente pra encontrar música (nova?), talvez de uma maneira até mais eficiente que o Music Genome Project, que pra mim usou os parâmetros certos só até certo ponto, porque ainda erra muito, muito mesmo, nas recomendações. A única consequência direta que percebi? Meu "attention span" foi reduzido, graças ao google e graças a isso. Posso contar nos dedos as vezes que escutei um disco do começo ao fim nos últimos dias. :-(

Fabricio Boppré | 02/08/2010

Ô, Ana, de curiosidade: onde estás morando atualmente? E como é de loja de discos aí? Porque elas estão sumindo, é claro, mas ainda existem umas cidades com suas heroínas da resistência... Nas grandes cidades dos EUA devem ter ainda algumas, não? A situação aqui em Florianópolis, que sempre foi horrível, hoje é risível. A rigor, no centro da cidade, temos uma loja somente. Daí tem as livrarias, mega-stores, geralmente dentro de shopping centers, mas as seções de discos são bem toscas. Os sebos -- que temos por aqui em razoável quantidade -- têm oferta melhor e maior do que as lojas... Temos uma viagem pros próximos meses, vamos passar por Londres, daí vou matar a saudade de andar por uma loja decente. Porque o cara sente falta disso [risos].

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