Dying Days
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Chris Cornell vs. Scott Weiland

Fabricio C. Boppré |

Não queria escrever um post falando somente do quão ridículo é o disco solo novo do Chris Cornell --- me parece que bastante tem se falado por aí. Aliás, as palavras definitivas foram escritas pela Trent Reznor, no Twitter do NIN:

You know that feeling you get when somebody embarrasses themselves so badly YOU feel uncomfortable? Heard Chris Cornell's record? Jesus.

Pois bem, daí me lembrei do disco solo novo do Scott Weiland, "Happy" in Galoshes, que eu achei bem bacana. Li algumas resenhas por aí, para ver se achava alguma impressão compatível com a minha, mas a maioria taxa o disco apenas como mediano. Normal, minhas opiniões costumam mesmo não bater com as das "publicações especializadas", salvo casos extremos, as coisas inequivocadamente muito boas ou muito ruins.

Voltando ao disco do ex-frontman do Soundgarden, minha opinião parece ser um desses casos de exceção. Infelizmente, falamos do extremo lá de baixo, tão baixo que acho até que sai do espectro da música que me diz respeito. E olha que esse espectro é bem largo, cabe muita coisa diversa. Bom, as comparações frequentes que leio por aí com Justin Timberlake devem fazer sentido --- não conheço a música do cara, mas sei que na sua turma estão Britney Spears, Back Street Boys e assemelhados. Portanto, eu nem deveria opinar, afinal, é música que não me interessa e eu não entendo nada. Mas, porra, eu não me contenho: que disco horrível e constrangedor esse Scream. Consegui ouvir duas vezes, e isso certamente faz de mim alguma espécie de herói da tolerância e do zen-budismo.

Já o Scott Weiland, é engraçado como ele tem uma carreira similar à do Chris Cornell: ambos frontmans de bandas ícones dos anos 90, ambos com uma experiência solo não muito bem assimilada pelos fãs de suas bandas originais (Chris com o Euphoria Morning e Scott com o 12 Bar Blues), depois ambos embarcando em projetos com algum apelo comercial mas no geral mal-sucedidos (Audioslave e Velvet Revolver), e por fim, voltando às suas carreiras solos. Mas as semelhanças param por aí, pois o disco solo do Scott é bem massa. Enquanto que o Chris Cornell, depois do inócuo Carry On, agora lançou este Scream que... bem, você já sabe.

Categoria(s): Opinião

Comentários:

Vicente | 17/03/2009

Isso só me leva a concluir que o metal paga pouco - e mal.

A carreira do Cornell declinou artisticamente na medida em que tentou ascender comercialmente (ó mais uma máxima do esquema musical se confirmando).

Soundgarden começou garageiro e acabou nas graças do público no "Superunknown", que já era bem mais digerível que o "Badmotorfinger". Mesmo o "Down On The Upside" mantinha o nivel, a identificação com as raízes metaleiras, por mais que as bandas naquele momento estivessem sugando os últimos caldos da era grunge.

O disco solo, para mim, sempre foi meio Frankenstein, um monte de idéias aglomeradas sem que a maioria delas atingissem um alvo. E o Audioslave foi a cartada final duma era onde o marketing das gravadoras ainda convencia as pessoas a comprarem discos. Até que Audioslave se deu razoavelmente bem junto ao público do Red Hot Chili Peppers, hein? Eu acho uma merda, mas pelo menos era comercial e vendeu.

É uma época complicada pra esse povo que conheceu uma era onde as pessoas compravam discos e colocavam os artistas num pedestal. Hoje, se encara os musicos com muito mais naturalidade e muitos deles estão voltando para caminhos independentes, mais focados no conteúdo para tentar sobreviver de uma parcela menor de público, porém mais fiel.

O Cornell, imagino, apelou para uma receita porca que em tese poderia dar certo: fazer o som que a grande massa quer ouvir. Tentou aproveitar a relativa exposição que o Audioslave lhe trouxe dando uma forçada gigantesca num público que certamente não o reconhece pelo Soundgarden. Poderia dar certo, mas tinha tudo para dar errado.

Fabricio Boppré | 18/03/2009

Vicente, ótima análise, acho que é isso mesmo. Mas sabe, o cara pode enveredar por caminhos mais comerciais, fazer algo diferente do que fez no seu passado --- afinal, as pessoas mudam --- e ainda assim manter alguma honestidade ou integridade artística (clichês, eu sei, mas creio nisso de verdade). Não me parece ser o caso do Cornell, pelo menos essa é a minha, ou nossa, opinião. Falo isso para recolocar o Scott Weiland na conversa de novo: esse último disco solo dele acredito que seja exemplo bem acabado disso, o disco é mais pop do que tudo que o Stone Temple Pilot fez, mas não me soa falso, incoerente com aquilo que conhecemos (ou imaginamos conhecer) dele. Achei o disco autêntico e muito bom. É mais pop, tem mais apelo comercial, mas sinto que isso não tenha sido um fim na composição e gravação do álbum, e sim, resultado natural das circunstâncias da carreira do cara, no desenvolvimento de sua arte. Algo bem subjetivo, é lógico, mas é a impressão que eu tenho ouvindo o disco. Sou muito mais fã do Soundgarden do que do STP, mas sem dúvida, individualmente, o Scott Weiland tem bem mais pontos comigo do que o Chris Cornell.

Sid Costa | 18/03/2009

O importante é que disso pode vir uma tour caça-níqueis do Soundgarden. E bem que poderia ser conjunta com o STP e o FNM

Vicente | 19/03/2009

É Fabricio, o caso Cornell vs. Weiland são caminhos diferentes para tentar sobreviver no mainstream.

Imagino que o Cornell visualizou o Audioslave como a última gota que o rock mainstream poderia lhe proporcionar, falando puramente em $ e destaque comercial. Ele certamente identificou que o dinheiro está no hip-hop, no rap e no que deriva disto. Resolveu chutar o balde mesmo. Pior é que os fãs são tão cegos que aceitariam de braços abertos uma volta do Soundgarden após tamanha demonstração de falta de apreço por uma conduta artística e mesmo pelo que a banda representou para uma geração (mesmo que isso não renda um centavo que seja).

O caso do Smashing Pumpkins está aí para provar que bandas boas acabam porque têm que acabar e às vezes é melhor so fã se agarrar em bootlegs, discos e videos dos tempos áureos e se divertir com os ex-membros se aventurando até pelo hip-hop. Só demonstrem um pouco de respeito pelo que os fãs preservam e ajudaram a construir. No caso dos Pumpkins, respeito muito o "The Future Embrace" não apenas porque gosto do conteúdo do disco mas porque ninguém tentou vilipendiar nenhum cadáver naquela proposta.

Fugi do assunto inicial.

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